Relendo meu segundo texto aqui publicado, o "Corujas", (08/01/2016), lembrei-me
de de outras figuras e sons que tem sido (e são), tão usados,
cada vez mais, levando a melodia ou a imagem, quase a exaustão, apenas visando
lucro, ou o são de forma a cravarem na memória humana, quase como uma "praga", descaracterizando
por completo seu contexto histórico, sua ideia inicial, seu ideal, qual a
importância dessa figura, ou até mesmo, o verdadeiro motivo pelo qual foi
criado...
Pego inicialmente para
exemplificar, a imagem já infelizmente quase desgastada da grande artista Frida Kahlo, que se fosse viva nos dias de hoje,
excomungaria o modo pelo qual sua imagem é disseminada... Ops, eu falei
excomungar? A comunista Frida
não "curtiria" essa palavra, que
é muito católica para ela... Mas gostaria menos ainda de ver seu rosto
estampado em todo e qualquer objeto de consumo, principalmente num cartão de
crédito, com a autorização da (argh!) a “Frida Kahlo
Corporation”... Frida era comunista, e contra o
capitalismo... Era simples, apaixonada pela vida, fazia de suas dores
combustível para seguir em frente, e usava seu sofrimento como fonte de
inspiração para suas obras... Tinha tudo para desistir e se entregar as regras
da sociedade, e tradições familiares... Mas era uma mulher à frente de seu
tempo, e enxergava muito além do que era visível... Captava a alma, e pq não
dizer, a áurea, das pessoas, dos sentidos e dos sentimentos, como a grande
maioria dos artistas...
Assim também era Ludwig Van Beethoven... Um dos grandes e precoces gênios da
música clássica, tão intenso, igualmente apaixonado, mas visto como
temperamental, mal – humorado, anti – social, mas ao contrário do que muitos
pensavam, ele assim parecia, por ter perdido a audição antes dos 30 anos de
idade... Imagine-se nesta situação... Mas o que venho falar sobre este mestre
“Clássico-Romântico”,
é sobre a dor no coração que sentia, quando em minha adolescência, os caminhões
que vendiam os botijões de gás, nos idos dos anos 90, pois a “vinheta” que incansavelmente
soava aos 4 ventos era o início de “Pour
Elise”... Mais uma grande obra que a meu ver, fora banalizada pela maneira
que foi usada e pelo modo como foi explorada... E por ser um trecho curto e que
se repetia a exaustão, se fixava numa parte do cérebro específica que nos faz
relembrar automaticamente de sons fáceis e “cantaroláveis”...
Acredito que se fosse viva,
Frida não permitiria que sua
imagem fosse tão banalizada, pelo fato que em grande parte, a mesma, não é
usada com o propósito de reafirmais suas ideias, mas visar pura e simplesmente
o lucro... Quem (ainda) vem na contra–mão desse capitalismo desenfreado é Quino, criador da doce e
crítica Mafalda, pois ele (repito “ainda”), detém os direitos de imagem de sua “cria”, e só permite que a mesma seja usada, DEPENDENDO do propósito... Mas meu medo é, que quando ele se for, fará a família
dele, o mesmo que a família de Frida fez com sua imagem?!? Ou manterão, em
respeito ao falecido gênio das tirinhas Argentinas ,as mesmas regras para uso
das imagens de Mafalda e sua turma?!?!?
Mesmo já com medo da
resposta (pois hoje o dinheiro
fala sempre mais alto), tenho
ainda esperança de que seja respeitada a imagem e os ideais de Mafalda (que lutava contra a sua inserção forçada à sociedade
consumista – e que odiava sopa).
Imagino que seja importante sempre tentar entender, e manter as raízes dos
motivos pelos quais certas músicas, personagens, ou o que pode ter simbolizado
para a nossa história, a presença desta ou daquela pessoa, por isso, por mais
que não conheçamos a fundo seus ideais, é sempre de bom tom, saber o pq de sua
criação e/ou ação, e não deixar, ou aceitar, que seja banalizada a ponto de sua
importância, ser apenas o seu preço...