quinta-feira, 16 de junho de 2016

Valsinha, saindo da Roda Viva...




Em um de meus textos, eu coloco o quanto o período da ditadura no Brasil, rendeu grandes riquezas, principalmente na área das ARTES, em especial, na música, e desde que me conheço por gente, ouço (e gosto) os grandes nomes da MPB, com fortes nomes, que até hoje estão fazendo e acontecendo, seja no campo artístico, seja no campo político, até pq eles viveram a censura, e muitos tentaram de todas as maneiras, burlá-la, cantando as verdades veladas pelas obrigações, e quando se começa a analisar, ir além da simples melodia, se consegue até fazer paralelos, comparações, ou até observar momentos e situações opostas, em músicas de uma mesma época...


Querendobrincar com duas músicas, escolhi "RODA VIVA" e "VALSINHA", pensando numa possível ANTÍTESE entre elas sobre o que aparentemente acontece nessas 2 letras tão distintas e visivelmente opostas, mesmo que ambas as músicas tenham sido escritas no mesmo período histórico (Ditadura – 1964 a 1985 / Repressão – 1968 a 1979),.. 





Enquanto que na primeira as pessoas, mesmo cansadas, esgotadas, diminuídas, querem ter vez e voz, vontade própria... Gente que quer lutar até as últimas consequências, e ainda assim, acha que não fez o bastante, acreditando que podia ter feito mais... Aqueles que mesmo sabendo que por “ordens superiores”, são proibidos de dançar, cantar, se divertir, vão contra os percalços, dão a cara pra bater... Depois, a música dá a entender que todos os sonhos e vontades, foram totalmente destruídos que não passaram de meras ilusões, devaneios, e que no primeiro pé de vento, ou seja, na primeira oportunidade, foi levada, virou poeira, fuligem... Enfim, fica apenas a lembrança, e a vontade de voltar àquele tempo, e dali não sair mais, mas eis que novamente, são vencidos e silenciados pela força bruta, de um poder absoluto... 


Com isso, temos palavras-chaves de coisas inatas do ser humano, como o sonho, a vontade, o livre-arbítrio, a arte, a força de vontade, persistência, a luta, a crença em si, a música, mas que nesse período tenebroso da história foi brutalmente encoberto pela névoa militar, que reprimia qualquer vontade própria, qualquer olhar diferente, qualquer sinal de mudança, que saísse das regras e padrões pré-estabelecidos... 




Já na segunda música, (“VALSINHA”), parece ocorrer o oposto, onde a letra nos conta a história de um casal, onde o homem adentra sua casa já se sentindo diferente... Agiu de forma positiva em casa, e focando sua atenção em sua amada, lança um caloroso olhar para sua esposa... Ela por sua vez, sentindo no ar essa mudança, se permitiu sentir-se mulher, (RE) fazendo-se bela e sensual, e assim, ambos se deixaram levar por essa mágica atmosfera, e foram para fora de casa, e pouco a pouco foram se acarinhando, entrelaçando, envolvendo, e de tal foi essa sensação de liberdade, que tal sentimento se alastrou pelos arredores e pela vizinhança, cativando e envolvendo a tudo e a todos, como se quisesse quebrar com tudo o que é negativo, que o MUNDO entendeu que é muito melhor viver amando que amargurado, dançando, que travado, bem dizendo que amaldiçoando, reinventando que simplesmente acatando, se expressando, se permitindo, que se calando, amargurando... 


O curioso entre essas 2 músicas, é que, como já disse acima, foram escritas, cantadas e apresentadas em festivais de música, mesmo tão controlado pela censura, pois estamos falando do período da ditadura militar que ditava toda e qualquer regra de como viver e conviver no Brasil, entre os idos de 1964 à 1985... Agora, me pergunto COMO, ambas passaram por talRIGOROSÍSSIMOprocesso de análise da crítica, que repreendia toda e qualquer ação ou menção às proibições da época... A mesma crítica, que também deixou passar, tanta LIBERDADE DE EXPRESSÃO, com tanto sentimento aflorado, tanto amor resguardado, tantos toques inflamados, e tanta mudança explícita, sem ter de perguntar para ninguém e sem ser questionado... 


Essas e muitas outras músicas tratam de coisas vistas como proibidas, hereges, impuras, e que nada mais falavam do que mais o homem busca: a LIBERDADE:  Viver sem amarras, sem ser discriminado por esse ou aquele motivo, sem ser diminuído por suas escolhas ou ser alvo de preconceito por conta de seu gênero, credo ou cor, pois a VONTADE do ser humano em viver FELIZ como bem lhe convém, tendo apenas como regras para tal, as leis básicas de convivência e respeito mútuo; A liberdade de AMAR quem e como quiser, sem a repreensão do outro; O LIVRE- ARBÍTRIO de buscar, saber, conhecer e dar a sua opinião sobre todo e qualquer assunto... Pensando assim, se formos unir todas as vontades & desejos, focando nosso bem estar, teríamos de pensar na UNIÃO de forças de todo ser vivente em nosso planeta, pois o BEM só traz vibrações positivas, e tais ondas se alastram por centímetros, metros, quilômetros, milhas, contagiando a tudo e a todos... 

terça-feira, 14 de junho de 2016

Frida Kahlo, entre OUTROS.......






Relendo meu segundo texto aqui publicado, o "Corujas", (08/01/2016), lembrei-me de de outras figuras e sons que tem sido (e são), tão usados, cada vez mais, levando a melodia ou a imagem, quase a exaustão, apenas visando lucro, ou o são de forma a cravarem na memória humana, quase como uma "praga", descaracterizando por completo seu contexto histórico, sua ideia inicial, seu ideal, qual a importância dessa figura, ou até mesmo, o verdadeiro motivo pelo qual foi criado...


Pego inicialmente para exemplificar, a imagem já infelizmente quase desgastada da grande artista Frida Kahlo, que se fosse viva nos dias de hoje, excomungaria o modo pelo qual sua imagem é disseminada... Ops, eu falei excomungar? A comunista Frida não "curtiria" essa palavra, que é muito católica para ela... Mas gostaria menos ainda de ver seu rosto estampado em todo e qualquer objeto de consumo, principalmente num cartão de crédito, com a autorização da (argh!) a Frida Kahlo Corporation... Frida era comunista, e contra o capitalismo... Era simples, apaixonada pela vida, fazia de suas dores combustível para seguir em frente, e usava seu sofrimento como fonte de inspiração para suas obras... Tinha tudo para desistir e se entregar as regras da sociedade, e tradições familiares... Mas era uma mulher à frente de seu tempo, e enxergava muito além do que era visível... Captava a alma, e pq não dizer, a áurea, das pessoas, dos sentidos e dos sentimentos, como a grande maioria dos artistas...


Assim também era Ludwig Van Beethoven... Um dos grandes e precoces gênios da música clássica, tão intenso, igualmente apaixonado, mas visto como temperamental, mal – humorado, anti – social, mas ao contrário do que muitos pensavam, ele assim parecia, por ter perdido a audição antes dos 30 anos de idade... Imagine-se nesta situação... Mas o que venho falar sobre este mestre Clássico-Romântico, é sobre a dor no coração que sentia, quando em minha adolescência, os caminhões que vendiam os botijões de gás, nos idos dos anos 90, pois a vinheta que incansavelmente soava aos 4 ventos era o início de Pour Elise... Mais uma grande obra que a meu ver, fora banalizada pela maneira que foi usada e pelo modo como foi explorada... E por ser um trecho curto e que se repetia a exaustão, se fixava numa parte do cérebro específica que nos faz relembrar automaticamente de sons fáceis e cantaroláveis... 



Acredito que se fosse viva, Frida não permitiria que sua imagem fosse tão banalizada, pelo fato que em grande parte, a mesma, não é usada com o propósito de reafirmais suas ideias, mas visar pura e simplesmente o lucro... Quem (ainda) vem na contra–mão desse capitalismo desenfreado é Quino, criador da doce e crítica Mafalda, pois ele (repito “ainda”), detém os direitos de imagem de sua cria, e só permite que a mesma seja usada, DEPENDENDO do propósito... Mas meu medo é, que quando ele se for, fará a família dele, o mesmo que a família de Frida fez com sua imagem?!? Ou manterão, em respeito ao falecido gênio das tirinhas Argentinas ,as mesmas regras para uso das imagens de Mafalda e sua turma?!?!?


Mesmo já com medo da resposta (pois hoje o dinheiro fala sempre mais alto), tenho ainda esperança de que seja respeitada a imagem e os ideais de Mafalda (que lutava contra a sua inserção forçada à sociedade consumista – e que odiava sopa). Imagino que seja importante sempre tentar entender, e manter as raízes dos motivos pelos quais certas músicas, personagens, ou o que pode ter simbolizado para a nossa história, a presença desta ou daquela pessoa, por isso, por mais que não conheçamos a fundo seus ideais, é sempre de bom tom, saber o pq de sua criação e/ou ação, e não deixar, ou aceitar, que seja banalizada a ponto de sua importância, ser apenas o seu preço...


quarta-feira, 8 de junho de 2016

"O Valioso Tempo Dos Maduros" - (PARTE 2)





Partindo do mesmo texto-base da última publicação ("O Valioso Tempo Dos Maduros..." (PARTE 1), podemos puxar para um outro assunto, que é a questão do tempo…


Quando pequenos, nem nos passa pela cabeça, e nem ao menos temos a noção do que é o TEMPO, então aos poucos "dividimos" 24 horas em "quando está claro" e "quando está escuro"… Depois, quando jovens, já com uma "certa noção de horário", nos sentimos donos do mundo e de nós mesmos, e desperdiçamos nosso tempo com grande displicência, nos importando com amenidades e “picuinhas”, até enfim, percebermos que cada dia, tem apenas 24 horas e que as mesmas são únicas e não voltam mais... E é a partir daqui, que começamos a ter mais consciência, (ou é quando deveríamos ter), e assim, tentamos frear os ponteiros do relógio, valorizando e sentindo, vivendo, absorvendo cada milésimo de segundo... Isso, por que...


"Contei meus anos, e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para as conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.


"As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos..."


Meu tempo tornou-se escasso para debater os rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial...

(Ricardo Gondim)


A maturidade, (quando se tem consciência do que é isso), nos faz perceber que tudo o que é em excesso, muitas vezes chega a ser artificial e descartável, pois tudo é passageiro, em especial rótulos, fama, cargos, títulos... O que é tão difícil das pessoas perceberem, é que quem cria esses níveis elevados ou não, é o próprio homem...


Por isso existem as lutas contra as diferenças sociais, opção sexual, cor, credo entre outros ponto que só interessa a pessoa e não ao outro, pois se ela é feliz assim, que direito tem um outro ser, mesmo que da mesma espécie, de dizer o contrário?!?!? E tudo isso para que?!?!? Por qual motivo, a pessoa não pode escolher quem ela quer ser, como, quando e onde?!?!? Se ela, da mesma forma, respeitar as minhas escolhas, pq não conviver?!?!?


Gosto do diferente, da mistura, de conhecer culturas, pensamentos, olhares e crenças diferentes das minhas... Pois acredito que é o diferente que nos completa... Tente imaginar um mundo puro, sem manchas, cores, formas diferentes... Que Tédio!!!


Da mesma forma, os malditos rótulos, que teoricamente pré-definem, uma posição, um valor, uma capacidade, uma experiência... E isso apenas baseado em diplomas, classe social, como também, gênero, cor, etc... Quem foi que decretou que homens e mulheres, negros, e brancos, “filhinho de papai” & “rapá da perifa”, católicos, evangélicos, espíritas, budistas, etc... Uns são melhores ou piores que outros?!?!? Acredito que com mais ou menos oportunidades, e/ou condições, todos temos capacidade, de darmos nosso melhor, e acreditarmos que podemos ser sempre melhores no que fazemos, sempre na busca de romper nossos próprios limites, sem que para isso eu prejudique o outro...


Quero ter GENTE ao meu lado... GENTE que pensa, age, busca, não se acomoda... GENTE que tem mesmo que diariamente, aquele primeiro olhar que seja para o mesmo caminho, para a rotina, em casa, trabalho, procurando sempre perceber, algo que as vezes está tão perto, e nos escapa... GENTE que vê no outro seu IGUAL, e mesmo sabendo ser diferente, aceitar e aprender com ele... GENTE que não rotula mas procura conhecer; que não julga mas convive; que não discrimina mas aprende; que não menospreza, mas acredita no potencial... Procuro por seres VERDADEIRAMENTE humanos, que cientes de sua mortal condição, vêem no seu próximo, seu igual...


Não tenho paciência, nem tempo para amenidades, "picuinhas", maldades gratuitas, preconceitos sem motivos... Tenho sede de novidades, assuntos infindáveis, curiosidades e descobertas, gentilezas, carinho, abertura para o desconhecido... Quando o homem perceber que é na simplicidade dos gestos, do olhar, das atitudes, que está toda a beleza... Que é na convivência, tolerância que está a verdadeira sabedoria... Quando ele olhar o diferente e se enxergar, muita coisa boa pode acontecer, e só quem sairá ganhando, é o próprio homem...