domingo, 29 de maio de 2016

"O Valioso Tempo Dos Maduros..." (PARTE 1)





Há alguns meses, recebi esse texto numa das Reuniões Pedagógicas da escola, e eu, nos meu ÁUREOS (quase) 40 aninhos, já me vi, fazendo parte deste modo de pensar... E percebi que já há algum tempo que busco ir muito além do que é posto como VERDADE, pois sempre me questiono, se existe uma só verdade, um só lado da história, uma só visão... E felizmente percebo que não é bem assim... Eis que o texto diz:


"Contei meus anos, e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.Tenho muito mais passado que futuro.Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para as conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

"As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos..."

Meu tempo tornou-se escasso para debater os rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial...
(Ricardo Gondin)



Como quesito "CURIOSIDADE", após a leitura, eis que um colega meu toma a palavra e revela que o mesmo texto, que foi atribuído ao grande Mário de Andrade, era na verdade do autor citado acima... Partindo desse ocorrido, comecei a perceber que temos que ter muito cuidado, cada vez mais, não só com o que há na internet, pois nem tudo que é posto, é verdade, nem toda fala, ocorrido, fato, obra, frase, e que é atribuída a alguém é REALMENTE de sua autoria... E isso também vale para quem somos, como recebemos as coisas ao nosso redor, como elas nos afetam, o que nos interessa, preocupa, e o que buscamos...


Sei que sou nova, mas igualmente não tenho paciência para conversas inúteis, fofocas, e não é que me interesse a vida alheia (a não ser que a própria se venha lamentar)... Até pq já é tão difícil gerenciar a própria, que dirá cuidar da que não é da minha conta... Não tenho o costume de aceitar também todo e qualquer fato pura e simplesmente, da maneira que é me apresentado, sem ao menos buscar conhecer "os 2 lados da moeda", para só então ter ou não uma opinião própria... Sim, pq, não sou obrigada a ter de opinar sobre tudo e todos... Também tenho gostado de, dependendo do que está em discussão, retroceder um pouco no tempo e buscar a gênese, ou algo que possa ter ajudado a chegar a tal ponto...


Especialmente no período em que estamos vivendo, a Curiosidade Intelectual é a chave para se conhecer, analisar, pesquisar, opinar e se colocar diante do que nos é vomitado diariamente... Ir além do que nos é apresentado, ler nas entrelinhas, dos textos, programas, entrevistas, reportagens, buscar mais de uma fonte, estudar, fatos históricos, antes durante e o que pode estar por vir...


O pior é que ultimamente, o que vem ocorrendo também, é que a grande maioria das pessoas, está se colocando deste ou daquele lado, por questões pessoais, de ego, e colocando de lado, encobrindo ou aceitando certos "deslizes", por vaidade, ou por achar que o outro fez coisa muito pior, mesmo que não haja provas... Isso nada mais é do que pensar apenas em si, aceitado o que 90% dos veículos de comunicação gritam aos 4 ventos, se esquecendo ou não se preocupando em esmiuçar o que parece estar posto... O comodismo da modernidade, nos tem feito cegos, burros, egocêntricos, e preguiçosos...


Um dos fatores mais perigosos para um governante e toda sua corja, é uma sociedade culta, ativa, crítica, que pensa, analisa, que se coloca contra ou a favor do que lhe é posto, o que, infelizmente, ao que posso perceber, é "minoria"... Mas me orgulho em dizer, é uma "minoria" que, assim como eu, em grande parte dos fatos & fotos, não se afunda num sofá, só por estar cansado da lida, não acomoda com possíveis regalias e privilégios, sabendo que pode muito mais, e que todos podem ter as mesmas possibilidades, não aceitando pura e simplesmente tanta indiferença e desigualdade, que sabe muito bem quando falar ou calar, e que não se esquece a real utilidade de determinados objetos e utensílios, e que se queremos algo, é parando o bairro, a cidade, o Estado o país, e não atrapalhando a noite de sono dos pequenos com balbúrdias ensurdecedoras, que ao invés de afetar a quem se pretende, afeta quem nada tem a ver...


Enfim, confesso que por muito tempo, infelizmente me deixei levar pelo que me era colocado como pronto, e hoje vejo as barbaridades que disse e fiz, sem saber mais a fundo do pq que tal fato estaria vindo à tona... Felizmente, graças a uma reviravolta em minha vida, que me fez repensar e reorganizar prioridades, e pensamentos, sem contar o surgimento de alguém muito especial, que não me conformo facilmente com mais nada sem ao menos buscar as raízes de todo e qualquer assunto que me é apresentado...


Tenho até receio quando vejo frases e textos atribuídos àqueles aos quais tenho prazer de ler, e assim, como esse texto, que a princípio, (pesquisado na internet), parecia ser erroneamente de Mário de Andrade, se não fosse pelo meu colega, eu e os demais ali presentes, de certa forma aceitaríamos, por se tratar de um nome de tamanha força... E é aí que está o  erro maior: se conformar apenas por conta de alguém "maior" ou "mais importante" que vc, reles mortal... NÃO!!! Todos somos importantes, todos podemos fazer história... Mesmo que não saibam nossos nomes, mas juntos, toda uma Nação Pensante, pode mudar o rumo da história e de seu país...

sábado, 28 de maio de 2016

O Que Há Por Trás de 1 Música.......





Pois é, eu sou do tempo em que a maioria das músicas, tinha um começo meio e fim... E o mais interessante: não eram escritas totalmente ao acaso, mas sim, tinham um "PQ" por trás, um motivo, uma base, todo um contexto, fosse ele social, histórico, político...

Acredito que um dos períodos mais férteis da música brasileira, foi justamente no período da censura, da ditadura, onde se controlava até a respiração e o número de piscadas do indivíduo... E para que sua música fosse divulgada, e para não sofrer nenhum tipo de represália, agressão, fosse ela física ou moral, foi-se usada e abusada a sutileza, o "quero dizer, mas não disse" e principalmente o "ler nas entrelinhas"...

Um exemplo disso é a música "O Bêbado & A Equilibrista", onde no vídeo acima, a querida Elis Regina majestosamente interpreta, com melodia de João Bosco, e letra de Aldir Blanc, e gravada em 1979, período esse de grande repressão nas ideologias e assim, perseguições políticas... Se pegarmos parágrafo por parágrafo, teremos quase que uma completa aula de história do nosso BRASIL, tão vivo, intenso e pulsante, além de fortes pitadas de protestos e denúncias...

Deixe-me fazer uma análise, em especial dessa música, para melhor ilustrar a ideia de se expressar sem ser explícito:


"Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos..."

Em poucas palavras, começa aludindo à queda da tarde, ao período em que ocorriam as torturas, e liga a duas tragédias muito semelhantes ocorridas ambas em 1971, mas em Estados diferentes (um elevado no Rio de Janeiro e um pavilhão, em Belo Horizonte), que ceifaram muitas vidas... Mas por outro lado, quase como um contraste,  pode-se observar um “certo” otimismo que o país vivia até meados de 1960, tendo a figura de Carlitos (Charles Chaplin), que mesmo pobre, era um bom rapaz e muito bem educado...


... "A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel...

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!..."

Nesta estrofe, tem na luz da lua, o reflexo da luz do sol, remetendo a luz dos bons tempos do passado... Já nas linhas seguintes, a música nos revela uma forma figurada de se falar das consequências da ditadura, como as torturas cometidas, os exílios forçados, as pessoas desaparecidas, as famílias dilaceradas...

Visto por outro ângulo, o mesmo trecho, a lua em questão, representa os poderosos que exploram os trabalhadores, (aqui, na figura dos prostíbulos), mas que nada mais eram os políticos que se "venderam" aos militares, em roca de "favores"...

Por fim, a figura do mata-borrão, era um modo de falar de como eram "apagados" aqueles que saiam da linha, que desobedeciam as regras do período da ditadura...


"O bêbado com chapéu côco,
Fazia irreverências mil,
pra noite do Brasil,"...

Aqui, parece que o mesmo gentil homem de classe menos favorecida, mesmo com todas as dificuldades, buscava no sorriso e na brincadeira, um modo de driblar a tristeza...


... "Meu Brasil...
Que sonha, com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu, num rabo de foguete
Chora, a nossa PÁTRIA mãe gentil,
Choram Marias e Clarisses no solo do Brasil"...

Aqui fica muito claro que a música fala daqueles que foram forçados a saírem do país, exilados, como o irmão do Betinho, Henfil, (pseudônimo do Jornalista Henrique Filho), além dos que foram perseguidos, torturados e mortos no DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), como Vladimir Herzog, marido da "Clarices" mencionada em seguida, além da  tal "Maria", tb esposa de um metalúrgico torturado até a morte, acusado de fazer parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas seu verdadeiro crime foi ler o jornal "A VOZ OPERÁRIA"... Também, as tais "Marias & Clarices", que a música traz, não se restringem apenas a essas duas mulheres acima mencionadas, mas também a todas as mães, filhas ou esposas que sofreram as perdas de seus amores, filhos , irmãos e amados... Enfim, percebe-se uma leve ironia, num mínimo trecho do Hino Nacional Brasileiro, onde um Estado onde ao contrário de defender, mata seus filhos...


“Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar"...

O povo, mesmo oprimido, reprimido, sofrido, censurado, vivendo na corda bamba das regras dos militares, sobrevivendo da clausura de um mundo sem cor, sem vida, sem liberdade, sonha e luta por um novo amanhecer, dias melhores...


... "Azar
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...”

E, finalmente, independente do que e de como ocorresse tal reviravolta, não ia se esquecer facilmente de todas as lágrimas derramadas e marcas deixadas por era a partir de todas as dores, e tinham, além da esperança, a certeza de que um dia o jogo ia virar, e que teriam força e coragem suficiente para dar o troco, para viverem a vida cada um com sua arte de viver e acreditar sempre, em mudanças para melhor...



Seguindo, cito aqui um "gran-mestre" na arte de sugerir, encobrir, "dizer sem dizer", e que muito cantou esse período de silêncios, foi (e ainda é), célebre o trovador Francisco Buarque de Holanda, vulgo Chico Buarque... Aqui, vou apenas citar algumas de suas maiores e mais fortes obras, onde a primeira Apesar De Você, ele mesmo de “cabeça baixa”, vai aos poucos se preparando para a revanche, com fortes argumentos, justificando sua luta contra tanto controle, dor e tristeza, sofridos nesse mesmo período da ditadura no Brasil... E por outro lado, em A Banda, onde a letra fala muito de uma “distração” que simplesmente passa por uma cidade, e por alguns instantes, seus moradores se esquecem de seus “afazeres”, e se deixam levar por aquela alegria, mesmo que momentânea...


Outro exemplo é Valsinha, onde a letra dá a entender, que um casal, que há muito não se permitia quebrar regras (ou uma rotina marcada por mesmices), se entregam às redescobertas do amor, do querer-bem, e de tanto se envolverem e libertarem das amarras de um dia-a-dia maçante e controlado, acabam por despertar todo  seu entorno, contagiando a tudo e a todos, exalando enfim, sentimentos e energias positivas, assim como a tão sonhada PAZ... Outras como Cálice, Chame O Ladrão, Fado Tropical, Roda Viva...


Entre outros nomes que não necessariamente se omitiram, e com a cara, a coragem, a voz e um instrumento, cantaram e encantaram, tanto os horrores, como as esperanças, as belezas, temos Geraldo Vandré, com Pra Não Dizer Que Não Falei De Flores, Caetano Veloso, com É Proibido Proibir, ou ainda, do mesmo, Alegria, Alegria, de João Ricardo e João Apolinário, interpretado brilhantemente por um grupo chamado Secos e Molhados, Primavera Nos Dentes, de Raul Seixas, Mosca Na Sopa, de Taiguara, Que As Crianças Cantem Livres, de Gonzaguinha, É......


Enfim, o tenebroso período da ditadura brasileira, (que ocorreu entre 31/03/1964, com o golpe militar, até 15/03/1985, quando José Sarney assumiu a presidência, mesmo que o eleito tenha sido Tancredo Neves, mas o mesmo, já estava doente e não resistiu), foi uma corajosa época no quesito gritar a verdade, por liberdade, pela vida, mesmo que de forma não explícita, em todo e qualquer modo de manifestação artística e cultural, não só na música... Foi um período de grandes nomes, letras, textos, músicas, obras, manifestações teatrais, etc, pois o medo velava o que a coragem queria expor aos 4 ventos, para que todos soubessem a verdade e sentissem a força e a criatividade que tem um povo sofrido, sedento de VOZ e de VEZ... Assim, não acredito ser possível aceitar pura e simplesmente toda e qualquer música, mas é muito mágico saber o que existe por trás das letras, principalmente as escritas nesta fase da nossa história, assim como já disse em outro texto, sobre as obras de arte...


Uma vez, alguém me disse que "Conhecimento Não Ocupa Espaço", e com isso, saber não só o que pode estar tanto por trás de uma obra, de uma poesia, quanto de uma música, só acrescenta, enriquece e entendemos ainda mais o valor daquela manifestação artística e compreendemos ainda mais, conhecendo seu contexto histórico, e assim, mesmo que tenhamos uma outra visão, e/ou opinião, sabemos a verdade e o motivo pelo qual tal obra foi criada...