Penso que na
minha última encarnação fui um ser aquático, ou sofri por falta dágua... Pois é
na água que me reconecto, com o mais íntimo de minha existência... Seja num
banho diário... Relaxando numa piscina... Indo de encontro a uma onda do mar,
ou mesmo ativando os nervos do corpo numa hidromassagem...
Talvez por
sofrer de uma espécie de complexo de inferioridade & lutar contra uma baixa
autoestima que já me deu várias rasteiras, (além do fato de ser mulher, o que
já acrescenta um fator bastante complexo), tenho tantos altos e baixos... E confesso
que já fui (quase) vencida por inúmeras vezes em diferentes fases da minha média
vida de 40 e poucos anos, mas a que mais me deixou “sequelas” foi no início de minha tenra adolescência onde, tendo
passado por uma intervenção cirúrgica que mudaria para sempre os rumos de toda
minha vida, e por esse motivo, tive um período de uma série de privações/restrições,
tais como: FÍSICAS – nos 3 primeiros
meses pós cirurgia, meus pais me davam banho, deitada em sua cama, pois não
podia fazê-lo sozinha, e sem o colete ortopédico que carreguei por 3 anos e
meio; ESCOLARES – por muitos meses,
não pude praticar as nenhuma atividade fora da sala de aula, passava os intervalos
na mesma, não carregava a própria mochilas e dependia de todos para tudo; ESPORTIVAS – não pude praticar esporte
algum, nem correr, nem brincar como estava acostumada no sítio de minha
família, dos 13 aos 15 anos...
E isso tudo
foi aos poucos minha autoconfiança, que já não era muito firme (mesmo não sendo
aparente), por ter sido comparada a outras pessoas – o que em vez de encorajar,
me foi “minando” em alguns aspectos, o que nos tras a outra marca: PESSOAL – jamais me vi superior a nada
nem ninguém, mas também não me via uma “igual”, mas sim sempre alguém inferior
& fraco... Não conseguia enxergar a força que SEMPRE tive, e a mesma que me
fazia enfrentar e superar tudo o que havia passado até então...
Também não
me passava pela cabeça que tudo o que havia vivido e sofrido, unindo com o modo
em que fui criada, refletiria nas escolhas que faria, passado o período de “clausura”,
e o quanto ainda me faria penar um pouco mais, mas que por outro lado, com o
caminhar da idade, gradativamente, tudo ia se reorganizando dentro de mim, e
tomando outras formas... E, digo: mudar atitudes & pensamentos, além de se
permitir conhecer coisas, religiões & crenças, culturas fora do seu mundo, podem
resultar em conflitos familiares, e de seu meio social...
Assim,
passados mais de 20 anos, após ter passado por um relacionamento de 12 anos,
com 2 filha (que na época pré – cirúrgica, o então doutor que iria me operar,
não garantiu que eu poderia engravidar), e já firme num segundo casamento tenho,
nos últimos 5 anos, repensado quase que DIARIAMENTE, sobre quem é a pessoa que vejo
quando me olho no espelho... Seus valores, força, capacidades, medos, desejos,
anseios, objetivos, sonhos, temores...
Numa rotina
louca de casa, filhas, marido, trabalho, & vida pessoal (coisa que me
privei por certo tempo, coisa que JAMAIS deveria ter feito), me vejo as vezes
como 1 dia que nasce e renasce, pois tenho fases de auto – aceitação, outras de
renúncia a mim mesma, quando chego a me recusar a sequer olhar para mim, seja
interna seja externamente... Tenho períodos “mornos”, que tanto faz quanto
tanto fez, como ocorre a cada nascer do sol, independente da estação do ano...
Mas, nas últimas semanas, tenho percebido algo estranhamente maravilhoso: é em
contato com a água, que parece que me ligo a minha existência...
Quando, simplesmente
lavando as mãos, já tenho na pele uma singela sensação de prazer, independente
se a água é quente ou fria... Quando me banho, por conta dos últimos 2 anos, em
que tenho feito exercícios físicos focando na questão da consciência corporal,
tenho me percebido mais e mais, quase que literalmente da cabeça aos pés – cada
toque, massagem, gota que cai independente da parte de meu corpo... Mas é
quando estou parcialmente, ou totalmente rodeada de água por todos os lados,
que me sinto tomada por algo somente meu, um momento único que ando aprendendo
a respeitar e saber ouvir as minhas vozes internas... A me olhar com olhos
diferentes dos mesmos de mais de 30 anos de negativismo, e começando a compreender
e (melhor de tudo) aceitar aquele ser de 1,54, “40” quilos, loira, e que passou
pelo que passou, e sabe que há muito ainda a passar, mas que cada vez menos irá
aceitar se entregar, e o mais importante: JAMAIS aceitará que nada nem NINGUÉM a
coloque num nível abaixo do que ela, pois como os inúmeros defeitos que posso
ter, estou me permitindo aceita ser quem sou, e mesmo que AINDA passe por outas
fases mornas ou difíceis de me perceber capaz, tenho consciência que esta “sementinha”
que estou implantando nesses dias de isolamento, me ajudarão futuramente, ais e
mais, a superar mais rapidamente as crises pessoais, que acredito (espero),
serão cada vez menores e mais breves...
Sim, a água,
aquele elemento do qual TODOS somos gerados, é onde me sinto acolhida...
Arrisco dizer que, quando em contato com ela, me sinto em casa... Permito me
sentir viva, pulsante, pensante, sensível, renascendo... Me sinto em mim...
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