quarta-feira, 15 de abril de 2020

Me Envolvendo Em Mim...



Penso que na minha última encarnação fui um ser aquático, ou sofri por falta dágua... Pois é na água que me reconecto, com o mais íntimo de minha existência... Seja num banho diário... Relaxando numa piscina... Indo de encontro a uma onda do mar, ou mesmo ativando os nervos do corpo numa hidromassagem...

Talvez por sofrer de uma espécie de complexo de inferioridade & lutar contra uma baixa autoestima que já me deu várias rasteiras, (além do fato de ser mulher, o que já acrescenta um fator bastante complexo), tenho tantos altos e baixos... E confesso que já fui (quase) vencida por inúmeras vezes em diferentes fases da minha média vida de 40 e poucos anos, mas a que mais me deixou “sequelas” foi no início de minha tenra adolescência onde, tendo passado por uma intervenção cirúrgica que mudaria para sempre os rumos de toda minha vida, e por esse motivo, tive um período de uma série de privações/restrições, tais como: FÍSICAS – nos 3 primeiros meses pós cirurgia, meus pais me davam banho, deitada em sua cama, pois não podia fazê-lo sozinha, e sem o colete ortopédico que carreguei por 3 anos e meio; ESCOLARES – por muitos meses, não pude praticar as nenhuma atividade fora da sala de aula, passava os intervalos na mesma, não carregava a própria mochilas e dependia de todos para tudo; ESPORTIVAS – não pude praticar esporte algum, nem correr, nem brincar como estava acostumada no sítio de minha família, dos 13 aos 15 anos...

E isso tudo foi aos poucos minha autoconfiança, que já não era muito firme (mesmo não sendo aparente), por ter sido comparada a outras pessoas – o que em vez de encorajar, me foi “minando” em alguns aspectos, o que nos tras a outra marca: PESSOAL – jamais me vi superior a nada nem ninguém, mas também não me via uma “igual”, mas sim sempre alguém inferior & fraco... Não conseguia enxergar a força que SEMPRE tive, e a mesma que me fazia enfrentar e superar tudo o que havia passado até então...

Também não me passava pela cabeça que tudo o que havia vivido e sofrido, unindo com o modo em que fui criada, refletiria nas escolhas que faria, passado o período de “clausura”, e o quanto ainda me faria penar um pouco mais, mas que por outro lado, com o caminhar da idade, gradativamente, tudo ia se reorganizando dentro de mim, e tomando outras formas... E, digo: mudar atitudes & pensamentos, além de se permitir conhecer coisas, religiões & crenças, culturas fora do seu mundo, podem resultar em conflitos familiares, e de seu meio social...

Assim, passados mais de 20 anos, após ter passado por um relacionamento de 12 anos, com 2 filha (que na época pré – cirúrgica, o então doutor que iria me operar, não garantiu que eu poderia engravidar), e já firme num segundo casamento tenho, nos últimos 5 anos, repensado quase que DIARIAMENTE, sobre quem é a pessoa que vejo quando me olho no espelho... Seus valores, força, capacidades, medos, desejos, anseios, objetivos, sonhos, temores...

Numa rotina louca de casa, filhas, marido, trabalho, & vida pessoal (coisa que me privei por certo tempo, coisa que JAMAIS deveria ter feito), me vejo as vezes como 1 dia que nasce e renasce, pois tenho fases de auto – aceitação, outras de renúncia a mim mesma, quando chego a me recusar a sequer olhar para mim, seja interna seja externamente... Tenho períodos “mornos”, que tanto faz quanto tanto fez, como ocorre a cada nascer do sol, independente da estação do ano... Mas, nas últimas semanas, tenho percebido algo estranhamente maravilhoso: é em contato com a água, que parece que me ligo a minha existência...

Quando, simplesmente lavando as mãos, já tenho na pele uma singela sensação de prazer, independente se a água é quente ou fria... Quando me banho, por conta dos últimos 2 anos, em que tenho feito exercícios físicos focando na questão da consciência corporal, tenho me percebido mais e mais, quase que literalmente da cabeça aos pés – cada toque, massagem, gota que cai independente da parte de meu corpo... Mas é quando estou parcialmente, ou totalmente rodeada de água por todos os lados, que me sinto tomada por algo somente meu, um momento único que ando aprendendo a respeitar e saber ouvir as minhas vozes internas... A me olhar com olhos diferentes dos mesmos de mais de 30 anos de negativismo, e começando a compreender e (melhor de tudo) aceitar aquele ser de 1,54, “40” quilos, loira, e que passou pelo que passou, e sabe que há muito ainda a passar, mas que cada vez menos irá aceitar se entregar, e o mais importante: JAMAIS aceitará que nada nem NINGUÉM a coloque num nível abaixo do que ela, pois como os inúmeros defeitos que posso ter, estou me permitindo aceita ser quem sou, e mesmo que AINDA passe por outas fases mornas ou difíceis de me perceber capaz, tenho consciência que esta “sementinha” que estou implantando nesses dias de isolamento, me ajudarão futuramente, ais e mais, a superar mais rapidamente as crises pessoais, que acredito (espero), serão cada vez menores e mais breves...

Sim, a água, aquele elemento do qual TODOS somos gerados, é onde me sinto acolhida... Arrisco dizer que, quando em contato com ela, me sinto em casa... Permito me sentir viva, pulsante, pensante, sensível, renascendo... Me sinto em mim...


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