Sou nascida na conhecida como "terra da garôa", e que teve, tem e sempre
terá ótimas historias pra contar, e com isso (e mais um pouco), sempre coisas, lugares, arquiteturas, culturas, esculturas, cores,
sabores, formas, flores e curiosidades, lendas a criar, transmitir,
experimentar, e acima de tudo, a riqueza que aqui reside de crenças e raças, e
por isso, há tanto para ver e viver... Mas mesmo com toda essa carga de
possibilidades, o dia-a-dia frenético e cronometrado, endurece a alma, o
corpo e o coração, vicia nosso olhar, e com isso nos impede cada vez mais de "olhar e ver" o que está ao nosso redor, ou o que é pior: o que pode estar LITERALMENTE debaixo de nossas narinas...
Pq buscar, artisticamente falando, estilos,
obras, monumentos, histórias, imagens, esculturas, de artistas e/ou movimentos
artísticos europeus, como se os mesmos fossem melhores que o que NÓS temos aqui?!? Não importa se primeiras construções como as
do conhecido Páteo do Colégio, sejam de estilo colonial (europeu), e levantadas com uma simplória estrutura
chamada de "pau-a-pique", que nada mais eram que tramas de troncos de
madeira, e cobertas com uma mistura de barro com estrume que dava a "liga", pois assim nasceu São Paulo, nas mãos dos
padres jesuítas, se não me engano portugueses e espanhóis, que aqui buscavam
catequizar e inserir os costumes europeus, aos indígenas...
Pouco importa, pois aos poucos, a monarquia "contaminava" a população com influências externas pois
sempre buscavam se "antenar" das novidades européias, e aqui as
apresentavam, vestiam, construíam, pintavam, conforme o que ocorria em suas
terras natais, e assim, íamos nos envolvendo nos costumes, nos adaptando aos
vestuários, recriando jardins geometricamente franceses, vendo brotar casas
coloniais, igrejas barrocas, palácios "alla" Art-Nouveaus, cathedrais Neo-Góticas,
edifícios modernos e por fim, obras/artistas Modernistas, que enfim, na
tentativa de se desvincular do que ficou parecendo uma IMPOSIÇÃO de onde se DEVIA vir toda e qualquer tendência/interferência externa, e na
busca da LIBERTAÇÃO, a necessidade de se criar (e/ou
resgatar, pq não), uma própria e singular IDENTIDADE artística...
E qual foi (e ainda está sendo) o resultado de toda essa MISCELÂNEA de países, culturas, costumes, estilos, etc?!?
Culminou numa cidade que acolhe a tudo e a todos de forma única, calorosa e
aberta, e em seu grande e infinito coração, cozinha-se continuamente em um
grande caldeirão em forma de "S", os frutos de tudo/todos que gradativamente a
foram formando... Seguindo os ensinamentos ANTROPOFÁGICOS, dos brasileiríssimos artistas da Semana de 22, onde a ideia principal, (partindo tanto do nome quanto do Manifesto), onde se buscava "comer da própria carne", da própria antecedência, e tudo o que ela
trazia, "digeri-la", e a partir dela, deixar nascer algo NOVO, e
regional, que mesmo com bases externas, ter algo cada vez mais com a NOSSA CARA, o que enfim, nada mais é, não negando todo nosso
passado, mas IR ALÉM DELE, e ter a capacidade de IR ALÉM, criar uma nova identidade de nós mesmos, uma
versão atual do que já foi, reconstruir o antigo, e assim, sempre ter algo para
se aprender e e ensinar, numa procura incansável do que (ou quem) VERDADEIRAMENTE
somos... E somos isso: um misto do MUNDO todo numa mesma cidade...
E onde quero chegar com isso tudo?!?!? Agradecendo aos Índios,
Negros, Portugueses, Espanhóis, Italianos, Alemães, Holandeses, Japoneses,
Gregos, além dos Jesuítas, Judeus, Muçulmanos, Indus, Maçons, Protestantes,
Umbandistas, Budistas, com toda a sorte de novos conhecimentos que formaram,
formam e para sempre serão bem-vindos a fazer parte da eterna formação de uma
cidade em contínua transformação, onde se tem acervos com obras originais,
sejam elas pinturas, esculturas, etc, de grandes nomes de estrangeiros, que
pacificamente se misturam aos NOSSOS grandes nomes... Nossas construções, parques, espaços,
monumentos, cheios de curiosidades, lendas, mistérios, que misturam "passado-presente-futuro", e independente da influencia, país, estilo, apresentam uma identidades
próprias, como releituras do que foi para o que pode vir a ser...
Ou ainda, os costumes, culturas, vestimentas sem esquecer do
vocabulário que, (ESSES SIM), foram incorporados, deram base ao que hoje temos, usamos e vemos e
dão margem para tipos, estilos, modismos e linguagens estranhamente futuristas,
e por mais que erroneamente se pense, que não há mais nada a ser criado, há
sempre algo a ser recriado, novamente, JAMAIS negando suas raízes, mas SEMPRE buscando ultrapassar barreiras pessoais/próprias...
Enfim, não entendo o PAULISTA/PAULISTANO, ou aquele que aqui escolheu ou se abrigou para
viver/sobreviver, não consiga, devido a frieza de uma vida muitas vezes
repetitiva, maçante, acaba por se esquecer de OLHAR E VER o que está ao ser redor...
Perceber a riqueza de sutilezas das diversas atmosferas que nos envolvem, e
nelas se permitir sentir os diferentes aromas que temos debaixo dos próprios
narizes, como a primeira vez... Ou o que temos diante dos olhos, onde os mesmo
deveriam ser continuamente "treinados" para ver o mesmo, como o novo, o turista ou
extraterrestre, mesmo que seja a quadragésima quinta vez que se veja "Isto ou Aquilo"...
Ou ainda, debaixo dos próprios pés, nos temas e variações dos
concretos e/ou outros materiais alternativos, fazendo refletir no que foi, o
que hoje é, e o que pode vir a ser... E assim, pensar que se OBSERVARMOS, sem a pressa
rotineira, nos permitirmos usar e abusar dos 5, 6, 7 sentidos, sem os bloqueios
ou pudores maduros, e com a pureza e a inocência de uma criança, e seu olhar
curioso e investigativo, perceber o que temos nessa SÃO PAULO
Carmelita, Colonial, Católica, Barroca, Art-Nouveau, Umbandista, Romântica,
Budista, Neo-Gótica, Muçulmana, Moderna, Indu, Gótica, Cristã, Renascentista,
Protestante, Modernista, Beneditina, e que na sua Contemporaneidade, abriga a
tudo e a todos, em suas diferentes cores, negros, brancos, mulatos, amarelos,
mamelucos, rosas, azuis, violetas, magentas, cians, sepias... E é EXATAMENTE nessa mistura
particularmente única que temos todo um universo a descobrir diariamente...
FELIZMENTE, alguns trabalhadores que
externamente já deixaram de ser criança há um certo tempo, na busca e resgate
desse olhar de eterno redescobrimento e aprendizado, criaram eventos que
acolhem, como faz essa cidade, mais e mais seguidores, curiosos do que já
conhecem e que pouco, não querendo desmerecer o que ou quem veio de fora, mas
fazendo ver e rever o que de BELO & HISTÓRICO temos, tão perto de nós e gratuitamente, como as CAMINHADAS NOTURNAS, oferecidas pelo dono de um
restaurante instalado no coração de SAMPA, e que cria roteiros para passeios às quintas a partir das 20hs,
saindo do Theatro Municipal, sempre com um OLHAR, foco, idéia, diferente, mas tendo como
base, a MESMA bela, rica, histórica,
curiosa, lendária e INTERNACIONAL terra da garoa!!!